Voltei a Barcelona depois de mais de 25 anos. Após um mochilão memorável com os amigos da faculdade, voltei representando a Logicalis Brasil para participar do Mobile World Congress, edição 2024. Lugares comuns: o nome já não condiz com a abrangência temática do evento – tem mobile, tem digital, tem ESG e muito mais, e é impossível, numa agenda combinando a participação nas palestras, reuniões com cliente e parceiros, cobrir uma parte relevante de todo o conteúdo.
Dado esse contexto, tentei trazer algumas ideias, fruto de o que vi e discuti no evento combinado com algum background de experiências pré-Barcelona. Dividirei em duas partes a análise com quatro macro temas e, abaixo, abordarei sobre dois deles:
A monetização da infraestrutura de rede
O tema de monetização da infraestrutura teve destaque como um dos desafios cruciais do setor e foi tratado a partir de dois blocos bem distintos, mas indissociáveis:
Esse binômio se relaciona a um problema crítico enfrentado pelo setor:
O reequilíbrio desta equação foi explorado principalmente nas discussões de como reforçar ou gerar novas linhas de receita. O desenvolvimento de aplicações industriais vem ganhando destaque neste sentido – a compatibilidade entre o 5G e o IoT, por exemplo –, mas ainda é um desafio não dominado.
A capacidade de desenvolver, oferecer e operar soluções digitais passa a ser cada vez mais crítica na competitividade e rentabilidade das operadoras, principalmente para o B2B, pois as bases massivas de usuários B2C passam a ser cada vez menos suficientes vis-à-vis os investimentos em evolução de rede (cujas features o próprio mercado demanda).
Chamadas as revisões regulatórias e atualizações legais – seja para facilitar (baratear e simplificar) o desenvolvimento e a adoção dessas soluções, seja para mitigar riscos e proteger os usuários no campo da segurança cibernética – foram citadas com frequência e se baseiam em uma necessidade geral de revisão do arcabouço legal do setor para um novo paradigma, de aplicações muito mais diversificadas e uma base de usuários muito mais ampla e complexa.
Reequilibrar a geração de valor sobre a rede parece ser uma missão complexa em nível global e, apesar da existência de casos de sucesso e exemplos encorajadores, os caminhos e as novas condições de jogo não estão muito claros.
Inteligência Artificial
Inteligência Artificial (IA) era o selo com o qual os temas passavam a ser credenciados para discussão focada. Dentre os diversos macro temas, é possível dizer que este era o principal. Interessante e positivo ver a abrangência como o tema foi tratado: seja com AI-enabler requirements (e desafios) ou com AI-enabled features (e seus benefícios), foi possível discutir o tópico com uma amplitude maior do que o usual.
Muito se fala sobre o e benefícios de AI, mas a viabilização do seu uso de maneira estruturada requer uma jornada talvez tão trabalhosa quando vantajosa. Para possibilitar as correlações e aprendizados, é necessário trabalhar diversos aspectos:
O uso visto de maneira mais massiva de IA é a ponta do iceberg – um search engine on steorids. O que diferencia a otimização da inteligência é a volta adicionada no parafuso, o aprendizado e a capacidade de evolução com baixo nível de assistência e intervenção humanas.
Em um mercado em que o COGS é o tráfego de bit and bytes, só a capacidade maciça de processamento já é muito bem-vinda. Mas além disso, a capacidade de sofisticar as análises gradualmente (aprendendo sozinho – ou quase) é especialmente útil em funções como trouble-shooting (predições em cenários não perceptíveis com análises humanas) e projetos (correlações e desenhos de cenários combinando o tráfego e suas variações, CAPEX, OPEX e recursos limitados).
Estamos dando passos iniciais em um horizonte tão promissor quanto desafiador. E essa jornada é potencializada em empresas que têm a informação e tecnologia (e profissionais que lidam diretamente com ela) como sua essência.
Aguardem a publicação da semana que vem em que abordo os temas de Open-X e Digital ESG.