Postado em 10 de Janeiro de 2017
Logo, o blockchain será padrão para transações em que haja necessidade de segurança, imutabilidade e compartilhamento rápido e eficiente.

Na atualidade, buzzwords como digitalização dos negócios, automação digital, inovação, economia compartilhada, fintechs e blockchain invadem estudos, relatórios, notícias e discussões diariamente. O artigo “Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System”, publicado por Satoshi Nakamoto em 2008, foi a ponta do iceberg da tecnologia blockhain que, quase oito anos depois, já tem cerca de US$ 1 bilhão de investimento acumulado em startups baseadas nessa tecnologia.

O blockchain tem potencial para ser tão revolucionário e impactante quanto a internet quando surgiu. Segundo Alex Trapscott, autor do livro Blockchain Revolution (e entrevistado na LogicalisNow #27), o blockchain pode ser o “pulo do gato” para trazer para o sistema bancário internacional os muitos milhões de pessoas que ainda estão fora dele, com a possibilidade de trazer grandes ganhos de eficiência e automação dos sistemas financeiros. No último Fórum Econômico Mundial, foi divulgada uma projeção que aponta que, em 2017, cerca de 10% do PIB mundial transitará sobre plataformas rodando em blockchain.

Mas, afinal, o que é blockchain? De uma forma simples, trata-se de uma tecnologia que cria um livro de transações (uma base de dados) seguro, inviolável e acessível a todos os pontos da cadeia. Esse livro é constituído por uma série de blocos de dados – em que cada bloco registra um lote de transações digitalmente integrados com criptografia avançada, de forma a criar um registro permanente e público de todas as transações que não podem ser alteradas depois de anotadas. Além disso, tal como a internet, o blockchain não tem uma autoridade central, já que o registro das transações está distribuído por uma vasta rede de usuários.

E o que há de revolucionário nessa tecnologia? Basicamente, ele desafia uma série de atividades que hoje dependem de uma entidade reguladora, como movimentar dinheiro, guardar, emprestar, transacionar/transferir, provar/atestar propriedade de dinheiro, entre outras. Isso explica por que o blockchain está despertando particular interesse em alguns subsegmentos do mercado financeiro, principalmente em temas como remessas internacionais de dinheiro, plataformas de mercado de capitais e pagamentos peer-to-peer. A concentração do interesse sobre a tecnologia nesses subsegmentos se deve ao fato de serem áreas em que existem um grande número de intermediários e a necessidade de verificação e consolidação de diversas bases de dados proprietárias de todos os elementos envolvidos.

Observando as fintechs e sua movimentação nos últimos tempos, vemos uma concentração delas no segmento de varejo do setor financeiro (cerca de 60% da receita mundial), mais precisamente na vertical de pagamentos, em que atuam empresas como PayPal e onde está a maior concentração de receita da indústria mundial – cerca de 25%. Não à toa, as maiores inovações de blockchain estão vindo de startups desse subsegmento.

O potencial de mudança disruptiva da tecnologia para a indústria financeira foi rapidamente percebido pelos principais players mundiais e uma de suas respostas foi a criação do consórcio R3CEV. O interesse não é por acaso. Recentemente, um relatório do assinado pelo Santander estima que o blockchain poderá reduzir o custo da infraestrutura dos bancos em até US$ 20 bilhões por ano.

No entanto, a tecnologia ainda está em um estágio inicial de maturidade e precisa ultrapassar vários desafios. Naturalmente, imutabilidade, integridade, segurança, confiança e descentralização já são características intrínsecas à tecnologia. Por outro lado, será necessário percorrer um longo caminho de desenvolvimento para abordar limitações como número de transações por segundo, escalabilidade da volumetria, requisitos de capacidade de computação versus consumo de energia e balanceamento entre a abertura e confidencialidade da privacidade dos dados dos usuários. Nesse caso, a discussão será sobre o formato como serão desenvolvidos os blockchains para as diversas finalidades e como eles se interligarão.      

No momento, os maiores exemplos de implantação e funcionamento da tecnologia são, sem dúvida, a moeda virtual Bitcoin e o sistema internacional de registro e acompanhamento de diamantes Everledger. Em um futuro próximo, quando observarmos a massificação da Internet das Coisas, muito provavelmente a tecnologia que estará por trás e viabilizará automações, machine learning e economia compartilhada será baseada em contratos inteligentes estruturados em cima de blockchains.

Independentemente do que virá no futuro, o consenso geral dos inúmeros interlocutores e players de mercado já deixa claro que a primeira indústria que será revolucionada pelo blockchain é a financeira. E aí, assistiremos inovações que vão desde novas formas de relacionamento com os clientes, acesso digital a uma gama maior de produtos (que terão mais fácil execução), além de redução do tempo necessário para movimentação de capital. Não só áreas de relacionamento externo serão afetadas. O blockchain provocará a alteração completa dos processos dos bancos com impactos significativos na redução do Opex.

Em um futuro próximo, o blockchain será o standard de referência para qualquer sistema de informação/transação onde haja necessidade de armazenamento de informação de forma segura e imutável, passível de compartilhar entre várias partes de forma rápida e eficiente e estas são apenas as características básicas. Porém, duas questões essenciais desta tecnologia movimentam a comunidade desenvolvedora: que soluções adotar para ultrapassar as barreiras de volumetria e escalabilidade, e qual será o grande impulsionador de desenvolvimento da tecnologia: a busca pela otimização do Opex ou a melhora da experiência do usuário na utilização dos serviços?

Essa transformação ainda deve demorar alguns anos. No entanto, quem ficar para trás, perderá as melhores oportunidades nas áreas de maior interesse. E os primeiros a vencer essas etapas certamente estarão preparados para conquistar novos mercados e aumentar seu market share nos mercados que atuam.

Três diferentes modelos de negócio que serão simplificados com a tecnologia:

Redes de Transferências Internacionais: pensando na ótica dos intermediários, pode-se identificar algumas dezenas de players entre bancos, intermediários de transferências internacionais e receitas federais envolvidos no processo, além de alguns milhões de potenciais usuários. O Bitcoin já está fazendo este papel de forma informal, pois há uma dificuldade relevante de colaboração e integração entre tantas entidades de foro internacional.  No entanto, alguns players estão desenvolvendo soluções próprias para acelerar a confirmação da transação, que hoje leva vários dias úteis.

Redes de atendimento ao consumidor final: nesta área de atuação, soluções como registro e acompanhamento de dívidas, hipotecas, carteira virtual, identidade digital, transferências e pagamentos simples serão portas de inserção da população não bancarizada neste universo. Conforme as barreiras atuais de volumetria do blockchain diminuírem, as empresas poderão encontrar soluções que viabilizarão o atendimento a populações remotas e/ou sem acesso ao micro banking. Por outro lado, os conceitos de carteira e identidade digital deverão estar associados aos conceitos evoluídos de KYC (know your customer) e service customization para melhorar portfólios de clientes high end.

Negociação e execução de transações em mercado de capitais: esse nicho já conta com um número considerável de participantes – investidores pessoa física e pessoa jurídica. Além disso, há uma série de organizações que participam ativamente da execução, confirmação, controle e auditoria da transação. No caso do Brasil, essas entidades são Bovespa, CETIP, bancos de investimento, bancos comerciais, investidores institucionais, investidores pessoa física, Receita Federal, entre outros. Com essa enorme quantidade de organizações envolvidas no processo, seria muito benéfico e seguro, tanto para os participantes quanto para os credenciadores, a implantação da tecnologia. O blockchain permitiria uma execução mais rápida e bem menos custosa das transações, aumentando, assim, os níveis de transparência, certificação e auditoria para todas as partes.

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