Postado em 12 de Setembro de 2023

A imagem de capa deste artigo foi publicada no Twitter em 2019 em um post de Kirk Goldsberry, que na época era analista da ESPN e contava com um histórico acadêmico que inclui lecionar Geografia em Michigan State e Harvard.

Publicada em seu livro: “SprawlBall: A Visual Tour of the New Era of the NBA”, a imagem é uma adaptação que ele fez combinando uma série de representações visuais da distribuição de arremessos em uma quadra de basquete durante um jogo e que ilustram como a análise espacial de dados (Spatial Analytics) foi usada pelos times da NBA para reinventar a estratégia de jogo, visando a maximização de valor nos arremessos feitos pelos seus atletas.

O interessante desse processo é como o uso de tecnologia analítica permitiu aos gestores entenderem que arremessos executados de determinadas posições da quadra, com uma distância relativamente pequena à cesta, tinham a mesma probabilidade de sucesso que outros realizados em uma distância – atrás da ‘linha de 3 pontos” – e que possuem um valor 50% maior. Explicando um pouco melhor para quem não conhece o esporte... o arremesso antes da linha de 3 pontos tem valor 2, enquanto atrás dessa outra marca tem valor 3.

Ou seja, ao alterar a estratégia, otimizando o risco/benefício, as equipes da NBA passaram a fazer mais pontos, maximizando sua eficiência ofensiva. A figura abaixo ilustra bem isso:

 

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Kirk Goldsberry, "SprawlBall: A Visual Tour of the New Era of the NBA"

Uma equipe em particular se destacou durante esse período “transformacional”: o Houston Rockets, uma franquia que teve um herói improvável - o executivo de basquete Daryl Morey. Ele moldou a estratégia de montagem de elenco e de equipe técnica, assim como a estratégia de jogo, com base em analytics.

Durante a permanência dele no time, a franquia teve o segundo maior número de vitórias em uma temporada regular (perdendo apenas para o San Antonio Spurs). O grande destaque desse período foi o armador James Harden, que com um plano de jogo que incluía posicionar bons arremessadores nas posições mostradas acima e maximizar arremessos de 3 – inclusive muitas vezes recuando de um arremesso mais próximo para buscar um atrás dessa linha (movimento conhecido como ‘step-back’) – se tornou uma superestrela da liga, sempre constando no quadro de líderes em pontuação e assistências.

A estratégia até ganhou um nome: “Moreyball”, em alusão ao livro “Moneyball”, que mencionei anteriormente. Morey se tornou tão famoso que foi retratado em um novo livro de Michael Lewis, The Undoing Project, além de ter sido premiado como executivo do ano da NBA na temporada 2017-2018, e ter se tornado co-fundador do MIT Sloan Sports Analytics Conference.

Os resultados em temporada regular foram tão bons que todos os times passaram a imitar essa estratégia, montar equipes de Data Analytics como parte de seu staff técnico, e valorizar mais os bons arremessadores de longa distância. Isso levou a uma transformação real no jogo como conhecíamos – com mais jogadores posicionados ofensiva e defensivamente próximos a linha de 3, espaços no garrafão se abriram, o que tornou o jogo mais rápido, dinâmico, e aumentou a ocorrência das chamadas ‘enterradas’, um tipo de jogada que sempre fez muito sucesso com fãs do esporte.

A experiência de assistir a um jogo da NBA mudou completamente – o jogo moderno hoje consiste em um mix de arremessos de 3 e de enterradas, enquanto jogadas clássicas de pivô (com as costas viradas para a cesta – o ‘back to the basket’) viraram raridade na liga. Alguns espectadores – e eu me coloco nessa categoria – olham para isso com saudade, por gostar de ver esse tipo de lance protagonizado por jogadores como Tim Duncan e Hakeen Olajuwon, mas é inquestionável que os times passaram a pontuar mais, e que o jogo se tornou mais rápido e com mais jogadas “explosivas” – o que tende a atrair mais fãs jovens. Mas há discussões no entorno da NBA hoje sobre como evitar que o jogo se torne uma disputa de arremessos de 3 e perca audiência a longo prazo. Ainda bem que existem gênios como Nicola Jokic e Steph Curry que conseguem combinar as técnicas do passado e do presente para manter o jogo atraente para caras espectadores como eu.

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